Luto 🖤

Meu último texto, foi sobre o dia mais triste da minha vida, a morte da minha mãe. Hoje, volto aqui, no blog que escrevo anos e anos, que não divulgo mais, mas criei com propósito de um dia ser reconhecido pelos meus textos um tanto ácidos, para desabafar agora sobre o que venho sentindo desde a morte da minha mãezinha. 



Acabei de acordar, 1:30 da manhã, chorando igual uma criança, após um sonho lindo, reconfortante, e quando volto a pensar nele, lágrimas começam a cair de meus olhos (também pode ser por causa dessa versão linda de SOUND OF SILENCE que estou ouvindo de uma playlist que achei no Spotify chamada LUTO). O sonho era simples, estava aqui na minha casa de Maringá, tinha acordado, e minha mãe fazia café da manhã, meu pai ainda estava deitado na cama. Fui ali fora, brincar com o Snow, minha mãe voltava pelo corredor (que coisinha linda, andando, toda pequenininha, viva), junto com várias roupas. Ela usava aquelas roupas que usava apenas pela manhã, uma camisa velha e um shorts. “Entra pra dentro e coloca um chinelo”, ela disse no sonho. Nisto, ela entra pela porta, e eu sigo ela, falando merda, igual sempre falava “você sabe que não pego gripe, me dá um tempo, né mãe?”, ela chega no meu quarto e começa a guardar minhas roupas, que tá ali fora no varal (isso na vida real). Ela passa por mim, vai até a cozinha e deixa passando café. Dai ela vai aqui na sala da minha casa, onde no sonho, a única coisa diferente, é que tem uma cama de casal e meu pai tá deitado nela. Deito ao lado do meu pai, e ela deita do outro lado. Eu começo a chorar muito (igual estou agora enquanto escrevo), e falo o quanto sinto saudades, meu pai só sorri meio triste e meio feliz, apenas desfrutando o momento da minha mãe encostada no peito dele e eu em sua barriga, Minha mãe sorri, diz que vai ficar tudo bem, que ama a gente. Eu acordo, 


Que dor. 


A saudade bate todo dia na porta da minha mente. Não existe a porra de um dia, que não lembre da minha mãe, que não lembre de momentos bons e ruins. Piadas, coisas que eu não gostava e ela fazia. Das coisas que eu nem sabia que gostava, e agora sinto falta todo momento. Meu coração grita sempre que penso o quanto essa saudade é devastadora. 


Existe alguns momentos, que penso se fui um bom filho, se eu conseguir demonstrar todo o amor que eu sentia por ela, mesmo sendo seco, cuzão, babaca e várias outras atitudes que me arrependo e gostaria de voltar atrás para corrigir. Entretanto, não é um filme da Marvel que posso rever minha mãe pela última vez e pedir desculpas por tudo que fiz, não é. Agora, preciso ter todos esses sentimentos e cenas na minha cabeça, e conviver com elas como pequenos demônios que vão me perseguir pelo resto de minha vida. 


Às vezes, simplesmente deito e choro. Até esses dias, ouvia os áudios dela no WhatsApp, entretanto meu celular explodiu e perdi eles. E é assim, aos poucos, vai se arquivando várias lembranças da mente, e elas precisarão de gatilhos para se lembrar. Só esperava que fosse demorar muito mais para começar a se apagar. Não lembro mais a voz da minha mãe com a mesma facilidade que eu lembrava, mas seu cheiro, parece ainda sinto perambulando por lugares aleatórios, como se ela me guardasse mesmo não estando perto de mim.


Outra coisa que dói e choro, era como os sonhos da minha mãe eram simples. Um motorhome, para poder viajar com meu pai
(guardo essa planta em minha bolsa). Ver eu crescer, me formar para poder colocar na parede a formação lá que ela sempre desejou. Entrar na Igreja comigo, me vendo casar. Dar um beijo em seus netinhos antes de dormir. Era só isso, não era muito, mas era o que minha mãezinha queria. E infelizmente, seu tempo acabou e ela não conseguiu ver.



Eu culpo ela. 


Sim, eu culpo ela. Minha mãe morreu por seu coração não suportar o seu peso. Aos poucos, vi minha mãe morrendo, com os batimentos de seu coração diminuir pouco a pouco. Meu pai emagreceu em um ano, mais de 12 kg, apenas fechando a boca, A única obrigação da minha mãe, era fechar a porra da boca, igual seu velinho, pra assim não deixar nem eu e nem meu pai desamparados. Sei que apontar quem culpar, faz parte do luto. Então, creio que logo esse sentimento vai passar, mas como aqui escrevo o que sinto na hora, no momento, eu culpo ela.


Sinto pena do meu pai. Não lembro quanto tempo era casado com minha mãe, mas era uns 30 e pouco. Todo dia, antes de sair de casa, meu pai dava um beijo em minha mãe, falava que amava ela. Após o almoço, era outro beijo e dizer que amava. Antes de dormir, também ]’eu te amo”. A Silvana Mara de Fátima Silva Santana, era o braço direito do meu pai. Enquanto ele acordava 6:00 da manhã pra ir trabalhar, minha mãe levantava junto apenas para fazer um café da manhã, pendurar as roupas e colocar outras pra bater, e assim que ele ia embora, voltava a dormir. Eles sempre fizeram tudo juntos, desde que eu lembre, ao acordar ao dormir. Sempre estiveram lá, um com o outro. Minha mãe passava mal de madrugada, meu pai estava lá, a noite toda com ela no SUS, e de manhã, estava em seu serviço de açougueiro, trabalhando pra pagar os remédios da minha mãe, que somavam mais de R$ 400 reais por mês. Faziam planos de viajar este ano para a praia, visitar a casinha que eles construíram juntos, que para isso, deixaram de comer muita carne e tendo uma alimentação por anos com ovo e salsicha, e ainda tendo que criar um filho. Mas, eles não ligavam. Era a vida que eles queriam.



Mas, tenho sorte por ainda ter um pai que me ama e tá fazendo todo dia seu melhor para suprir o que minha mãe era pra mim. Todo dia, me manda uma mensagem perguntando como estou, igual minha mãe fazia. Me pergunta se venho comendo bem, igual minha mãe fazia. Ainda vou escrever um texto (prometo que vou, e não ficará no vácuo igual outros) falando sobre o que meu pai vem sendo e o que ele foi para minha mãe, preciso colocar pra fora essas coisas dentro de mim.


Creio que exista alguns momentos memoráveis na vida de muitas pessoas, mas a morte da mãe, com certeza sempre vai ser um dos maiores. Infelizmente, o meu aconteceu muito cedo, 27 anos. Na realidade, creio que sempre vai ser muito cedo para perder uma mãe. A mãe é o anjo que tá na Terra para nos aconselhar na vida toda. Eu perdi esse anjo. 


Minha mãe, sempre falava uma frase que eu não concordava, “só vai dar valor quando perder a mãe”. Ela estava certa. 

Um comentário:

Espeloteada e Patricinha disse...

Caramba Rock... Eu obviamente estou chorando, não consigo nem imaginar como é passar por isso. Parabéns pelo texto, você escreve muito bem e consegue passar em palavras o que sente.
Bom, não sei no que você acredita, mas eu acredito que ela está muito melhor que a gente e que todo mundo tem um tempo certo.
Se precisar de mim, tô aqui.

Instagram