Londrina

Exatamente a um ano atrás, estava indo para Londrina, a cidade que te engole por inteiro.

Um ano atrás recebi uma proposta ousada, ir para Londrina trabalhar em uma agência deverás grande. A proposta realmente não era boa, eu largaria: minha casa que morava sozinho, deixar para trás a garota que eu estava apaixonada, meu fiel companheiro Snow, meus amigos, minha faculdade, até mesmo outro emprego que eu tinha proposta (e ganhava mais). Por que eu fui? Lá tinha uns caras profissionais deverás foda na qual eu poderia evoluir profissionalmente, mas esse era o real motivo? Creio que não, naquele momento, eu precisava só sair de Maringá. Mais uma vez, por que? Acho que precisava testar o modo very hard de viver.

A FULL HOUSE

Londrina me trouxe uma experiência louca, eu morei em hospício. Sim, um hospício. Eram quinze quartos, morando quinze pessoas. Um amigo tinha me indicado para lá, dizendo que era muito legal: tinha piscina. Meus pais me ajudaram na mudança e levamos quase tudo para lá: meus quadrinhos, quadros e a geladeira. Cheguei na república Full House em um domingo. Quando meu pai deixou minhas coisas, ele não acreditava onde eu estava me enfiando (nem eu na realidade), o portão estava caindo aos pedaços, havia quatro cachorros, e logo quando tirei minhas coisas do carro, um rottweiler fez o favor de mijar no meu computador.


O portão de entrada estava caindo aos pedaços, mas ainda não é a pior coisa, te garanto. Vamos lá, a casa tinha piscina, e também seu lixão próprio (que era uma quadra de tênis desativada), no qual havia uma pequena plantação de maconha. A cozinha, era relativamente grande, mas não tinha como você andar nela sem esbarrar em algum resto de comida podre ou lixo no chão. O banheiro tinha os azulejos mais legais que vi na minha vida (ando pirando em estética) e mais sujos (ninguém nunca teve a capacidade de tirar o papel sujo do lixo). Entrei em todos os quartos, e todos estavam com pixações, pirocas desenhadas, nome de mulheres, calcinhas pregadas, realmente, eu me sentia sujo só de entrar naquele lugar, fora o clima pesado que a casa havia.

A casa havia sido de um traficante, existiam paredes falsas. Loucura, não?


Meu quadro era composto de uma geladeira podre e enferrujada (eu não havia colocado a minha lá, deixei ela na garagem por meses), folhas e um pedaço de colchão finíssimo que estava no chão. Enfiei toda a minha mudança no quarto. Naquele dia, eu chorei a noite toda. Era uma mistura de sentimentos, mas eu consigo definir o mais intenso: saudades.


SAUDADES

A saudade não bate, ela derruba. Londrina me desconstruiu tudo que eu era, e deu um novo significado do que era saudades. Eu comecei a sentir saudades de algumas coisas que nunca imaginaria na minha vida. Por exemplo, perto da minha antiga casa em Maringá, havia um parquinho, onde sempre ia caminha com o Snow, era meio estranho o parquinho, tinha um pessoal estranho, mas mesmo assim, eu descobri que eu amava aquele lugar e sentia uma saudade de estar lá sentado com o Snow fumando um cigarro. Eu encerrei um capítulo da minha vida quando eu saí de Maringá. Só que eu sentia saudades de tudo que havia deixado para trás, e realmente era muita coisa. Eu sentia saudades descomunal da Fernanda Ferdinandi...

F. FERDINANDI.

Ela era minha força e me ajudou tanto, mas tanto que tudo que eu escrever e agradecer, não será suficiente. Nós nos conhecemos de verdade com meus dias de Maringá contatos, e ela foi a pessoa que mais me apoiou nessa mudança. Antes de eu ir embora fiz um rolê épico chamado 12/12 (12 bares na mesma noite, cada bar você bebe uma garrafa de cerveja sozinho), e acho que de todo esse rolê foi divertido, mas a coisa mais memorável foi ela me acordando de manhã de ressaca na porta da minha casa com um pão de várias sementes e um linguiça. Creio que eu me apaixonei por ela ali, naquele dia.

Quase todos os finais de semana eu ia na casa dela em Maringá, saia da agitada Londrina para descansar em seu colo. Seu colo era meu “figaz da vida real”. A cerveja quando tomávamos ali, tinha outro gosto. O gosto de amor e desejo de construir algo, de Londrina ser uma fase que ia passar juntos.

Logo quando cheguei em Londrina, ela me disse algo que me deu tanta, mas tanta força: você é meu herói. Eu, o louco dos quadrinhos, sendo herói de alguém só por arriscar na vida. Cara, foi tanta força, mas tanta força, que eu me senti o David Dunn em ‘Corpo Fechado’ (2000).

Eu ia embora de Maringá, toda segunda-feira de manhã (em torno de umas 5:30), e ia direto para o trabalho. Era doloroso deixar ela para trás, eu queria jogar uma pokébola nela e levá-la para a tal de Londrina. Infelizmente, aquela era uma saga que eu havia de passar sozinho.

Ainda escrevo um texto apenas sobre ela.

SILAS

Eu ia dormir no cinema, porque não conseguia dormir na Full House, era festa todo dia, recheado de várias drogas que nunca ouvi falar. Eu não me drogava lá, eu não era amigo das pessoas lá, eu apenas dormia lá para não dormir na rua. Passava o dia todo fora de casa rezando para que minhas coisas não fossem roubadas ou destruídas por um incêndio que começaria por lá.

Silas era um cara que trabalhava junto comigo, era mais velho que eu, tinha seus trinta e poucos anos. Ele morava deverás longe do trabalho, e estava com a ideia de alugar uma casa e morar perto da firma, conversamos um pouco, e resolvemos alugar juntos. Qualquer lugar era melhor que a Full House.

Alugamos a casa.

Fundamos uma república: Dominacana.

Bom, no começo foi meio complexo, confesso. Eu e o Silas brigamos feio logo no primeiro dia, porque eu tirei a roupa dele de dentro da máquina de lavar (já estavam lavadas) e coloquei as minhas para bater. Ele ficou bem puto, achei que eu apanharia. Mas, depois de muita conversa, criamos algumas regras, e no ínicio ficou bem. Silani gostava de funk, um bom baseado e cerveja. Éramos bem diferentes, mas ao mesmo tempo dois lobos solitários em Londrina. Posso dizer que criamos uma aliança. Ele Cozinhava bem, tinha uma cachorra (Layla) e era extremamente organizado.

Coloquei meus quadros na parede, minha cortina. Mas, mesmo assim, lá ainda não era minha casa. Eu não tinha mais um lar. Saudades.

Ainda escrevo um texto sobre Silani. Porque ele realmente foi um personagem interessante.

LONDRINA

Londrina fede. Eu me sentia no bairro mais pesado de Sin City ou Gotham. Pedintes em todos os lugares, pichações nos lugares mais altos. Sujeira em todos os lugares. Só de lembrar desta cidade, me dá vontade de vomitar.

Eu sai poucas vezes lá, não havia amigo, apenas um amontoado de pessoas, cobras uma querendo um passar por cima do outro.

O sentimento de você estar no meio de 558.439 mil pessoas e se sentir sozinho. Eu me sentia sozinho o tempo todo em Londrina.

Eu trabalho com criatividade, como vou ser criativo em uma cidade onde eu não me sentia bem em lugar nenhum?! Impossível. Fui mandado embora da firma. Foram nove meses intermináveis, mas voltei outra pessoa. Uma pessoa melhor? Não sei, mas de barriga cheia, porque me enchi com o pão que o diabo amassou em Londrina.


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